Pedalando por aí

Relatos de pequenas aventuras, pedalando pelos "maus" caminhos de Portugal

Monday, July 10, 2006

Caminho de Santiago (Leiria - Conimbriga)

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Em Maio, quando pedalei até Portalegre, ao passar na zona de Caxarias (norte de Ourém), reparei nas famosas setas amarelas pintadas quase sempre em postes de electricidade. Tratam-se de quadrados de fundo branco, onde foram pintadas ,através de um molde, duas setas: uma amarela que aponta em direcção a Santiago de Compostela e outra azul que aponta em sentido contrário, para Fátima. Penso tratar-se de um troço de ligação entre Fátima e Ansião, para que os peregrinos que venham do Norte, possam seguir o Caminho de Santiago (em sentido contrário) até esta última localidade e daí seguir esta variante para o Santuario Mariano.
A malta que costuma pedalar comigo aos domingos de manhã andava a desafiar-me para fazermos uma volta maior que durasse o dia todo. Vieram-me à ideia as tais setas e combinámos que no sábado, 08/07/2006, repetiríamos o trajecto até encontrar as setas que seguiríamos até só haver força e tempo para regressar a Leiria.
Às 9:00 encontrámo-nos, tal como combinado nas bombas de gasolina à saída de Pousos. Para fugir ao movimento seguimos em direcção ao Tubaral, fizemos a descida para Caldelas, Cercal e mais à frente chegámos a Gondemaria onde encontrámos as primeiras setas. Até Caxarias a estrada segue pelo vale e não tem grande movimento. Aproveitámos o facto de se "atravessar" à nossa frente uma padaria para fazer uma paragem e comer o segundo pequeno-almoço.
Retomada a estrada em direcção a Freixianda começei a achar que este Caminho estava mal escolhido já que a seguir a alcatrão vinha mais alcatrão e ainda por cima numa estrada com bastante movimento. Antes de chegar a Freixianda lá estava a seta amarela a fazer-nos saír para uma estrada mais estreita. É agora! pensei eu. Mas não. O alcatrão sucedeu-se e a espaços as setas lá iam aparecendo pintadas nos muros dos aquedutos, por uma estrada paralela ao leito seco do Nabão, onde aqui e ali se apresentavam belas "mesons" (zona de emigração, esta!).
Entretanto chegámos a um entroncamento onde as setas nos baralharam. A azul era simples e apontava na direcção de onde vinhamos mas a amarela fazia um ângulo recto para a direita. Hesitámos um pouco e achámos que se a seta fazia um ângulo é porque ali se tinha de virar. Não seguimos muito convencidos. Atravessámos a ponte sobre o Nabão (quem não conhecer zonas calcárias não entende a necessidade de uma ponte tão grande para um rio seco) e pedalámos em direcção a Almoster, onde chegámos com a certeza que estávamos errados na opção tomada. Como até ali o caminho até estava a ser uma desilusão, seguimos em direcção a Ansião quase certos que não se tería perdido grande coisa. Eram cerca de 12:40 e resolvemos procurar um restaurante para almoçar.
Depois de almoço não foi difícil descobrir as setas novamente. No principal cruzamento da localidade, segui em direcção à ponte antiga (norte) e ali, junto a um supermercado, lá estava uma seta, desta vez feita à mão e num amarelo mais torrado. Passámos por baixo do IC8 e um pouco mais à frente mais setas, desta vez......UAUUUU! a indicarem um caminho de terra. Foi por pouco tempo pois mais adiante estávamos novamente a pedalar nas ruas de uma aldeia.
Um sentimento de desilusão começava a fazer-se sentir perante tanto alcatrão. Mas valeu! a partir daí entrámos em caminhos de terra, as silvas começaram a fazer arranhões nos braços, o mato coçou-nos as pernas e até tivemos de desmontar para galgar alguns calhaus, perante a imponência de enormes carvalhos. As setas começaram a aparecer com mais frequência, pintadas nas pedras do chão e dos muros. O alcatrão passou a ser tabu e só o pisávamos para atravessar uma aldeia ou uma estrada de um lado para o outro. Os lugares e aldeias do Rabaçal, na Serra do Sicó, foram-se sucedendo ligados por caminhos com bastante pedra.
Entretanto, no vale, as sombras desapareceram e o calor, apesar de não estar um dia particularmente quente, começava a incomodar. O que se destacava agora eram aqueles montes no meio do vale, quase cónicos, um dos quais encimado pelas ruínas do castelo do Rabaçal.
Foi curioso reparar no leito seco de um rio que recolhe toda a água que no inverno cai da chuva ou brota das nascentes deste vale. Há uns anos tive oportunidade de por aqui pedalar no inverno e sei bem a quantidade de água que corre nessa altura. O caminho seguiu a direcção deste rio, umas vezes mais de perto, outras afastando-se um pouco, até culminar num carreiro mesmo pela margem, que se estendeu por umas boas centenas de metros até chegarmos a outra aldeia.
Estávamos com um sorriso de orelha a orelha e já nem nos lembrávamos da quantidade de quilómetros em alcatrão que tinhamos feito de manhã. As palavras que íamos trocando uns com os outros não fugiam muito de "fantástico", "espetacular", "fabuloso", "maravilha", acrescentadas de alguns palavrões que ainda lhes aumentavam o grau.
Para sair deste vale as setas amarelas continuaram a indicar a direcção do rio que, ao longo do tempo, conseguiu escavar na rocha uma saída apertada, na sua caminhada para o mar. Quase sem dar conta chegámos às ruínas romanas de Conimbriga, onde parámos para comer um gelado e comprar água.
Para quem quiser fazer um belo passeio de BTT, pode deixar o carro em Ansião e seguir as setas amarelas até Conimbriga. O regresso pode ser feito por estrada ou explorando um pouco mais daquilo que o Sicó tem para oferecer. A marcação em direcção a Santiago de Compostela está irrepreensível. Já em sentido contrário, para Fátima, é mais difícil avaliar mas, principalmente no chão, vimos algumas pedras pintadas com a seta amarela e a azul em sentido contrário.
Decidimos que era ali em Conimbriga o nosso ponto de regresso. Pedalámos até Condeixa e aí apanhámos a estrada para Soure. Agora o alcatrão já tinha outro sabor, de tal maneira agradável que quando demos conta (íamos "na brasa") não estávamos a pedalar em direcçao a Soure mas sim para Montemor-o-Velho. Por fim lá encontrámos um desvio para Soure. Tomámos essa direcção e pedalámos, passando por várias aldeias, por estradas secundaríssimas, mas de Soure... nada". Finalmente apareceu uma placa a indicar "Samuel" e como esta aldeia tem um nome invulgar, tinha-me ficado na memória quando o ano passado passei por ali perto. Agora já estava mais orientado e até podíamos ir ate às Termas da Azenha comer e beber alguma coisa no "bar dos holandeses". Foi isso que fizemos.
Não havia nada para comer mas... havia cerveja. Ficámos ali um pouco à conversa e a ganhar coragem para o que faltava, que segundo o GPS do Fernando era pouco...em linha recta (só eu é que tinha consciência do que relmente nos separava de casa).
De volta ao pedal, atravessámos uma enorme extensão de arrozais, por um caminho de terra onde tinham passado tractores com aquelas rodas de ferro e cujo piso ora parecia chapa ondulada, ora areal.
Com o Sol a tombar parámos para montar as luzes. Nesta altura qualquer coisa já servia para parar. A extensão de arrozais foi diminuindo à medida que fomos subindo o vale da Ribeira de Carnide, de onde saímos subindo "à mão", mas só por solidariedade com o Zé que estava com uma dor no joelho.
Já depois da Bidoeira, onde soubemos que tínhamos perdido com os alemães, uma "fragância" a porco invadiu-nos as narinas: "Milagre!" ou antes: Ribeira dos Milagres. Estávamos quase a chegar. Mais à frente, já com Leiria ali em baixo, separámo-nos, cada um pelo caminho mais perto até casa. Atravessei a cidade e fiz a muito custo os últimos quilómetros até casa, onde cheguei todo a tremer (depois da cerveja nas termas não tinha comido mais nada).
Para mais tarde recordar ficam 178 km pedalados num dia muito bem passado com os amigos.

3 Comments:

Blogger Ricardo said...

Olá amigo

tomamos a liberdade de te linkar no nosso blog. Passa por lá e continua a manter activo este cantinho cibernético!

5:30 PM  
Anonymous Anonymous said...

Hello, Pedro

Finalmente visitei o blog pedalandoporai.
Aproveitei para gravar fotos.
Infelizmente não me é possível acompanhar-te num passeio. Praticamente só ando no teu odiado alcatrão no planinho e devagarinho.
Cuidado com a saúde. Não abuses.
Um abraço
Tó Rui
www.arcns.no.sapo.pt

2:33 PM  
Anonymous Anonymous said...

Visite o blog de Soure, a terra que tanto tentou encontrar nas placas, em www.vila-de-soure.blogspot.com

4:04 AM  

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