Pedalando por aí

Relatos de pequenas aventuras, pedalando pelos "maus" caminhos de Portugal

Wednesday, August 18, 2004

Cicloférias pelo Ribatejo 2004

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17/07/04
Eram 8:30 quando o Nuno Neves chegava a minha casa vindo de Leiria. Apesar do nevoeiro, os 8 km que separam a casa do Nuno, da Barreira (a minha aldeia) deixaram-no a suar em bica. Como eu já estava pronto, partimos de imediato para cinco dias de férias que nos levariam a percorrer o Ribatejo e o Norte Alentejano.
O primeiro objectivo era atravessar o PNSAC. Rolámos sempre por estradas alcatroadas e atravessámos o planalto de S. Mamede até atingir Mira d'Aire. Todo este percurso é muito bonito, mesmo logo a partir da Barreira, com uma vista soberba para o vale do Lis e depois a passagem pelas várias aldeias do PNSAC. É claro que para nós esta parte do percurso foi um simples "sair" de Leiria uma vez que é uma zona nossa conhecida. Por pouco não nos cruzámos com a malta que saboreava mais uma "Sopa da Pedra" (nome dado aos passeios fetos no PNSAC). Ainda liguei ao Triguinho mas não deu para nos encontrarmos.
Em Minde o Sol começou a espreitar e parámos para nos besuntarmos com protector solar. Fizemos a última subida e entrámos no desconhecido, saindo do alcatrão por um trilho com muita pedra que mais à frente descia aos ZZZ para perto da gruta do Almonda, onde nasce o rio com o mesmo nome. Para quem vai na A1 na direcção sul-norte, quando começa a subir a Serra d'Aire, vê do lado direito uma zona escarpada no sopé . Pois é por aí que o caminho desce.
Mal o rio nasce é logo aproveitado por uma fábrica de papel bastante antiga. Tirámos umas fotos, comemos uma fruta e inventámos por terra quase até Torres Novas. Devo dizer que não tinha intenção de fazer muita terra. A ideia era seguir por estradas secundárias fugindo ao movimento automóvel e em alguns locais tentar arranjar ligações por terra mas sempre procurando bons pisos. Afinal o primeiro bocado fora de estrada deu o mote e acabámos por comer muito pó durante estes cinco dias, o que foi espectacular.
De Torres Novas seguimos quase em linha recta na direcção de Santarém por um caminho que segue os campos de cultivo. No inverno enlameado por causa da chuva e no verão enlameado por causa da água das regas. Tínhamos pensado almoçar no Paul do Boquilobo mas afinal a palhota de madeira onde funcionava o Restaurante já não existe. Seguimos junto à linha do Norte e em Mato de Miranda o restaurante estava fechado. Ainda bem, porque mais à frente no Pombalinho, comemos que nem uns alarves. Também no que toca à alimentação, a nossa ideia não era almoçar de faca e garfo mas ir parando aqui e ali para comer menos de cada vez. Só que com a fome com que chegámos ao Pombalinho e depois de bem comidos, resolvemos adoptar esta solução.
Saímos de barriga cheia, na força do calor, pedalando por aquela estrada que é noticia em anos de cheia. Reguengo do Alviela é mesmo ali ao lado. Mais à frente voltámos a entrar na terra e apanhámos uma subida que nos fez logo sentir o almoço às voltas no estômago. Aqui o GPS do Nuno começou a ditar o percurso e fomos subindo até ter o Tejo cheio de ilhas ali aos nossos pés e lezíria a perder de vista. Entretanto estávamos dentro de uma Quinta e descemos até sair apanhando o alcatrão para Santarém. Nesta estrada espetou-se um pau com as dimensões de um palito no meu pneu de trás. Entrou pelo rasto e saiu pela lateral. Mais uma vez a dupla "Teimosia & Nhanha" fez milagres. Não queríamos acreditar que após umas bombadas intercaladas com uns metros a rolar à mão fizessem aquele efeito. Siga! Que Santarém está mesmo ali.
Tentámos evitar subir à cidade. Então atravessámos a entrada da ponte e seguimos pelo sopé das Portas do Sol. Quando demos conta estávamos no bairro do Alfange e só saímos daqui, primeiro a subir com a bicicleta à mão e depois pedalando penosamente até perto do cemitério da cidade. Mais valia ter subido pela estrada e entrado na zona histórica.
Apanhámos então o "Caminho do Tejo" em sentido contrário. Passámos as Omnias e depois de passar por debaixo da ponte Salgueiro Maia, continuámos até Caneiras. Aqui o alcatrão acaba e lá tivemos de inventar, ora passando o dique para um lado, ora passando para o outro até encontrar o estradão que segue para Porto de Muge. Encontrámos um grupo que andava a fazer um passeio através de um road-book. Iam também para Valada. Eram da Figueira da Foz e um deles (barbudo) disse que era primo do Girão. Mas como um deles estava às voltas com um furo, ficaram para trás e nós lá seguimos a tempo de chegar a Valada no momento em que se passava do segmento de natação para o de ciclismo, numa prova de triatlo. Ainda pensámos esperar para ver se víamos o Fernando Carmo, mas como lá longe no rio ainda alguém esbracejava, achámos que o melhor era irmo-nos instalar, jantar e depois podia ser que ainda desse para o ver a sair da água (eh eh!).
Entretanto pedalava-mos ao lado dos triatletas e ao passármos junto a um grupo de velhotas o Nuno pediu aplausos, ao que elas responderam com palmas e palavras de incentivo. Entrámos na localidade, ruela aqui viela acolá e entramos numa rua, perpendicular à estrada onde tínhamos passado, precisamente de frente para as velhotas que nos tinham aplaudido. Vem de lá uma e diz: "- Eu bem disse às minhas amigas que você (Nuno) era aquele rapaz que ainda à dias ficou em minha casa! Então já por aqui anda outra vez?" E lá teve a Dona Mariana de tirar do corredor a mesinha do telefone, para que as bicicletas passassem até ao fundo, junto à casa de banho.
Já de banho tomado, tínhamos feito pouco mais de 100 km, comemos uns caracóis numa esplanada ao som dos Chutos & Pontapés, jantámos bem e dormimos melhor.
18/07/04
Arrumámos a tralha nas burras e despedimo-nos da D. Mariana. Tudo estava OK. Os suportes de alforges continuavam bem fixos e sem folgas e a minha roda de trás mantinha a pressão. Enquanto tomámos o pequeno almoço, traçámos objectivos para a jornada do dia, que na teoria seria a mais difícil. À distância novamente acima dos 100 km, havia a juntar alguns troços de terra completamente desconhecidos para os quais contávamos com pedaços de cartas militares e tracks teóricos previamente feitos pelo Nuno. Queríamos atingir Coruche o mais tardar à hora de almoço e se não fosse possível chegar a Avis, dormiríamos em Montargil.
Apesar de não madrugarmos em nenhum dia, fomos sempre despachados naquilo que não era pedalar. Arrumávamos tudo rapidamente e as paragens só tinham o tempo estritamente necessário para o que fosse preciso. Nunca nos deixámos "adormecer".
Atravessámos o Tejo pela ponte D. Amélia. O piso em grelha metálica e as bicicletas carregadas é pior que entrar a grande velocidade num areal. A Solução foi passar o peso para trás, apontar ao fundo da Ponte e pedalar rápido para não perder o equilíbrio. Nem deu para apreciar a paisagem. Contornámos Muge em terra, no sentido dos ponteiros do relógio e pedalámos rápido, rápido demais, no alcatrão que nos fez chegar a Glória do Ribatejo. Atravessámos esta localidade e entrámos num estradão de terra com muito seixo solto. Foi uma recta imensa que parecia nunca mais acabar e com os seixos a sacudirem constantemente o esqueleto e a mecânica. Foi um alívio quando acabou embora nos aparecesse algo pior: AREIA. Afinal eram só alguns metros. Iniciámos então um carrocel, primeiro entre eucaliptos e depois no meio de sobreiros que nos levou até ao alcatrão que liga Almeirim a Coruche. Até disse ao Nuno: "- Imagina este caminho feito a abrir, sem alforges."
O dia estava a começar bem e tudo parecia bater certo. Só fizemos cerca de 200 m em alcatrão e voltámos a sair para acompanhar o arrozal que nos levou ao açude da Agolada. A mata de Pinheiro bravo que ladeia esta pequena barragem foi arranjada e neste Domingo eram já centenas as pessoas que se acomodavam para passar um dia de piquenique. Fugimos dali rápido, comemos um gelado numas bombas de gasolina em Coruche e seguimos pela margem norte do Sorraia. Foram rectas a perder de vista sempre com o arrozal do lado direito a aliviar o calor que se fazia sentir. Ao fundo um "risco" vertical fazia adivinhar uma longa subida. Bingo! Só que havia um caminho de terra que seguia plano pelo vale e não nos fizemos rogados.
Maravilha! Arrozal, chaparral, cegonhas, perdizes e terra, terra sem fim. Atravessámos o alcatrão de onde teríamos vindo se tivessemos feito a tal subida e continuámos pelo vale do Sorraia, mas agora num piso de seixo que nos obrigou a desmontar e andar um bocado à mão. Estávamos tão contentes e confiantes que não nos custou nada. Além disso Coruche já estava bem para trás e ainda não era hora de almoço. Novamente em cima das burras, o caminho foi fechando e ondulando. Ainda atravessámos uma Quinta e de repente o caminho parecia acabar.
Uma conduta de rega com cerca de 2 m de largo passava à nossa frente e atravessava o vale em aqueduto. Uma corrente de água impressionante separava-nos do outro lado. Mas é para estas coisa que existem as pontes e havia uma pequenina que era suficiente. Do outro lado a cereja em cima do bolo, e ainda a festa ia a meio. Um carreiro seguia a conduta. Não imaginam a satisfação de pedalar por um carreiro que nunca imaginámos existir, ao lado de uma conduta de água corrente num dia de calor. Quase tão bom quanto isso só mesmo o bacalhau que comi numa esplanada em Couço, uma vez que em Santa Justa, onde nos tivemos de separar da conduta, não havia sítio para comer.
Agora era mais que certo que Avis seria o nosso destino neste dia. Estava tudo a correr bem, muito bem. Decidimos que tentaríamos encostar novamente à conduta e seguir se possível ao seu lado. Não foi preciso porque ela atravessou-se à nossa frente no alcatrão e convidou-nos a segui-la pelo vale acima. O que é que nos estava a acontecer. Um gajo vem de longe, não conhece nada disto e acerta com esta maravilha. Só num momento tivemos de cruzar a conduta por uma das inúmeras pontes que a atravessam, por causa de uma ribeira que passava por baixo dela. Mais à frente retomámos a sua margem e tivemos de transpor uma cerca. As bostas de vaca não nos fizeram desistir e só encontrámos gado do outro lado da conduta. O maior susto foi mesmo quando um bando de patos bravos levantou voo mesmo ali ao lado. Ainda apanhámos lama e uma chuveirada quando um daqueles aparelhos de rega resolveu dar um ar da sua graça.
Tudo isto para vos dizer que os cerca de 14 km que separam Sta. Justa do paredão da barragem de Montargil, foram feitos por terra sempre ao lado da água.
Faltava-nos agora pedalar um bocado em alcatrão na EN2 até encontrar um caminho de terra que nos levaria até ao Maranhão. Estávamos perante uma dificuldade, pois trata-se de uma zona com pouco relevo, com uma enorme quantidade de caminhos que vão mudando à medida que os tractores vão passando e sem localidades num raio de cerca de 8 km. Primeiro abastecemos de água. O Nuno levava dois bidons e eu uma garrafa de 1.5lt enfiada num suporte de bidon montado no tubo vertical, entalada com a tampa no tubo horizontal. No suporte presa no elástico, levava normalmente outra garrafa. No Alentejo, com calor não há que facilitar.
Aqui o GPS foi muito útil para nos indicar o local onde deveríamos sair do alcatrão. Depois decidimos fazer um jogo. Eu orientava-me pelos pedaços de carta militar e o Nuno ia confirmando pelo track teórico." C'os diabos!" pedalámos vários kms pelo meio do montado com o trilho sempre a bater certo. Estávamos radiantes quando avistámos ao fundo, no meio do arrozal, o Monte da Igreja. Descemos rápido e parámos em cima do pontão sobre a ribeira de Seda para tirar umas fotos. Lembram-se daqueles engarrafamentos na Maratona de Portalegre junto a uma ribeira. Pois é essa mesmo, mas depois de se juntar a muitas outras e se escapar da barragem do Maranhão.
Já pedalávamos do outro lado quando me virei para o Nuno e lhe disse: "- Acho que nos vamos arrepender se não tomarmos aqui uma banhoca". "- Esfola " disse ele e catrapuz dois amigos no banho, sob o olhar autoritário de dois GNR que passavam por ali de jipe.
Depois veio o pior. Os quase 15 km que nos separavam de Avis começaram a subir, em alcatrão e sem nenhum interesse paisagístico face a tudo o que já tínhamos experimentado neste dia. Foi mesmo penoso pedalar até à entrada da Vila e verificar que as placas que indicavam o posto de Turismo apontavam para o cimo do povoado. Como já estava fechado tivemos de perguntar por alojamento e à primeira demos com um café que alugava quartos com casa de banho privativa. Um luxo a bom preço. Jantámos menos mal (acho que só se salvou o gaspacho e o melão) mas também não havia grande escolha e a paciência também já não era muita. Recolhemos ao quarto e como havia vento,verificámos a corda da roupa na varanda. É que o Nuno levou uma corda para podermos estender a roupa que íamos lavando. Esperto! Deu um jeitão e todos os dias tínhamos um equipamento lavado de reserva para o que desse e viesse.
Este foi sem dúvida um dia em cheio nestas férias.
19/07/04
O dia começou com a minha roda de trás vazia. Nada que quatro remendos não resolvessem. Tirando isso todo o resto estava em perfeito estado. Ao longo destes dias combinámos que cada um iría olhando para a bicicleta do outro para ver se tudo estava bem, principalmente no que respeita ao acondicionamento da carga. Também os pontos de fixação dos suportes eram verificados várias vezes por dia. Felizmente os parafusos que levámos de reserva não foram necessários.
Deixámos Avis a descer, até atravessar um dos braços da Barragem e fizemos a respectiva subida do outro lado. Mais à frente, depois de um primeiro engano, virámos à direita por um estradão de terra que nos levaria até Figueira e Barros. Ao pequeno almoço a senhora do café disse-nos que junto ao Ervedal tinham construído uma ponte em madeira, réplica da ponte 25 de Abril. Depois a madeira apodreceu mas a população não desistiu e foi construída uma em ferro. Decidimos fazer um pequeno desvio para comprovar a semelhança da dita e... não é que é mesmo parecida?
À entrada de Figueira e Barros uma fonte caiada e com as pias azuis de limpas, obrigou-nos a parar e reabastecer. Daqui até ás Termas de Cabeço de Vide ainda houve tempo para entrar em terra, junto a um enorme aterro sanitário e fazer uns bons km seguindo o track teórico ou a intuição, pois nesta altura a confiança era tanta que nada parecia falhar. E não falhou. Pelo caminho a Serra de S. Mamede is ficando cada vez maior.
Banho obrigatório nas termas, cujas águas fazem bem à pele e nós vínhamos com a pele um bocado maltratada. Almoçámos um ensopado de coelho numa esplanada, à sombra das árvores com a água a correr ali ao lado.
Arrancámos para Portalegre decididos a não pisar o alcatrão. Entrámos na terra e fomos seguindo por caminhos pouco pisados e nalguns locais com feno pela cintura. Entretanto tivemos de transpor uma porteira e pelo sim pelo não despi o meu colete cor-de-laranja e escondi a bandeirinha, não fosse andar por ali gado à solta.
Sim! colete cor-de-laranja e bandeirinha. Eu na estrada quero que me vejam bem e não me importo se gozam comigo, quero é sentir os carros a passar bem ao lado.
Mas aqui no meio do monte o cor-de-laranja podia ser perigoso. Entretanto quase a pedalar pelo meio do nada e só com a serra ao fundo, chegámos à estação abandonada de Ribeiro do Freixo. Mas para que raio serviria esta estação se aqui ao lado não há nada?
Entretanto atingimos o estradão que liga a estação de Portalegre a Alter do Chão e resolvemos ligar ao nosso amigo Vilela para nos dar umas dicas de como chegar a Portalegre continuando por terra. Não estarei a errar muito se disser que ainda estaríamos a cerca de 15 km da cidade. Pois bem, as indicações do Vilela resumiram-se a :"- Viram na primeira à esquerda e depois quando vos aparecer o estradão que vem do Crato viram à direita. OK! Esquerda e direita, nada mais fácil para fazer a distância que ainda nos separa da chegada. Lá seguimos, durante um bocado a pé porque havia tanta pedra solta que com as bicicletas carregadas tornava-se complicado progredir e não convinha partir nada. Ainda passámos por um monte abandonado que pelas dimensões do casarão em ruínas e de todos os anexos, nos fez pensar que talvez fosse o motivo da existência da tal estação. Pouco depois o caminho fechou e havia que transpor uma ribeira. Espera lá! Este lugar é familiar. Claro! É a ribeira da Seda novamente, naquele local dos engarrafamentos da Maratona. Agora é só fazer a Maratona ao contrário.
Em Portalegre fomos recebidos por um Vilela cheio de inveja que à noite nos deu a provar a bela gastronomia alentejana, num restaurante na Urra - "O Álvaro".
Foi talvez a etapa com mais percentagem em terra mas com menos de 100 km. Houve banho pelo meio e tanto o almoço como o jantar foram divinais. Rever o Vilela & Cia. foi o ponto alto do dia e a prova de que a VELOCIPEDIA é muito mais que bicicletas.

20/07/04
Arrancámos de Portalegre um pouco tarde face aos dias anteriores. Em Fortios atravessámos o IP2 e entrámos em terra. Logo à frente uma vedação que não quisemos transpor, impossibilitou-nos de fazer o percurso programado. Seguimos por uma alternativa que nos levou a um monte. Perguntámos a um senhor que por ali estava, se nos indicava um caminho por terra para o Crato. Respondeu-nos que não era dali e que não sabia (?). Resolvemos seguir pelo caminho que nos pareceu ir nessa direcção. Um tractor tinha andado por ali a lavrar e chocalhámos durante mais de 1 km, até que fomos barrados por uma vedação. Do outro lado, algumas vacas interrompiam o seu pasto e olhavam-nos curiosas. Pareceu-nos que, ao fundo, do lado de lá da outra cerca havia um caminho. Como voltar para trás significava chocalhar 1 km, resolvemos atravessar a cerca e "comviver" um pouco com os bovinos, mantendo sempre uma distância de segurança. Afinal o caminho era do lado de cá (onde havia gado) e ao percorrê-lo ainda nos cruzámos com mais vacas e alguns bezerros bem pequenos, cujas mães zelozas nos fizeram temer o pior.
Mais à frente encontrámos uma capela e um pequeno cemitério mas......isolados. Ao chegar a um estradão cruzámo-nos com um carro e o condutor indicou-nos o caminho a seguir. Decididamente as coisas não estavam a começar bem. Pelo caminho que deveríamos seguir vinha uma manada de vacas que estavam a ser mudadas de um campo para o outro. No meio de tanto pó e tanto animal tivemos de fazer um desvio para fugir dali para fora e mais uma vez ficámos perdidos.
A zona até que nem era má. O gado, ao passar por ali em fila indiana, vai desenhando carreiros que nos animaram um pouco mas que nos levaram várias vezes a becos sem saída. Resolvemos então que o melhor seria tentar apanhar a estrada alcatroada e segui-la até ao Crato. Mesmo assim não foi nada fácil sair dali, daquele labirinto de carreiros, cercas e linhas de água cheias de vegetação impossíveis de atravessar.
Por fim o Crato onde não encontrámos nada de jeito para comer. Avançámos para Flor da Rosa e aí sim, parámos para almoçar. Era uma da tarde e tínhamos gasto uma manhã e muitas calorias para chegar ali. A tarde tinha de render mais e não podía haver falhas. Demos uma vista de olhos ao castelo adaptado a pousada e pedalámos por alcatrão em direcção a Comenda, onde apanhámos um estradão que nos levaría a Margem (Vale de Gaviões). Pelo caminho atravessámos uma ribeira onde havia lagostins. Nesta altura não tínhamos track no GPS, só nos restava o mapa. Em Longomel resolvemos arricar e navegámos por azimute até Vale das Mós. Uns quilómetros em terra sem grandes enganos a fazer esquecer a manhã. Durante esta tarde fomo-nos alimentando com gelados que ía-mos comprando nos cafés das localidades por onde passávamos.
Entretanto chegámos à Bemposta. A EN2 levar-nos-ía até Rossio ao Sul do Tejo, num ritmo rápido que mais tarde eu iría pagar. A subida para o Tramagal encarregou-se de confirmar isso mesmo e cheguei à margem do Tejo, junto à fábrica de celulose, já no "vermelho" e a braços com o "Homem da Marreta". O que nos valeu foi que depois de atravessada a ponte, Constância ficava logo ali e com mais uma dúzia de pedaladas a cama e a mesa eram alcançadas.
Se a manhã não correu nada bem, a tarde compensou e se a jornada não teve muito interesse em termos paisagisticos, pelo menos não me vou esquecer do empeno que apanhei.
21/07/04

Este último dia não teve grande história. Parece que já estávamos em casa e mesmo assim Leiria ainda ficava longe. Praia do Ribatejo, Castelo de Almourol, Barquinha e Entroncamento foram sendo alcançados calmamente. Nesta última comprámos um melão que coloquei no suporte e transportei até Lapas (depois de Torres Novas). Entrámos num caminho de terra que nos levaría a Pedrogão e fizemos uma paragem para comer o melão.
A Serra d'Aire foi evitada ao máximo. Subimos até a um vale cheio de oliveiras que atravessámos, contornando a serra. Entretanto, por telefone, combinámos almoçar com o Triguinho e tivemos de subir ao Bairro, ao restaurante daquele senhor que nos serviu já por duas vezes o lanche, naqueles passeios denominados "Comboio Fantástico". E assim lá acabámos por subir aquilo que queríamos ter evitado. Valeu a pena porque estávamos radiantes com a nossa aventura e ao almoço, nada melhor do que ter ali um apaixonado pelas bicicletas para poder "envenenar" com as nossas histórias.
Depois do almoço a jornada foi breve. Fátima e os trilhos que daqui seguem para Leiria, são por nós sobejamente conhecidos e simplesmente nos limitámos a ir para casa. A aventura acabou ali na aldeia de Fontes, local onde nasce o rio Lis.

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